#sintomas&diagnósticos

TDAH em adultos: sintomas, causas e tratamentos

Laura Do Valle e Karina Tagliari

25/05/2023

como o adulto se sente quando os sinais de TDAH surgem

O TDAH em adultos vem junto com vários estigmas e falsos conceitos. Então, a gente quer te ajudar a entender melhor esse transtorno, suas possíveis causas e os tratamentos!tempo de leitura estimado: 10 minutos

hiperatividade

conhecimento

como lidar?

Laura Do Valle e Karina Tagliari

Laura do Valle - psicóloga, especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental e Psicologia Organizacional, mestre em Psicologia Clínica com formação em DBT. Atua como psicóloga clínica, professora e supervisora.

Karina Tagliari - psicóloga, especializanda em Terapia Cognitivo-Comportamental, com formação em Terapia de Aceitação e Compromisso pela USP e em Psicoterapia Baseada em Evidências pelo InPBE. Atua como psicóloga clínica e é fundador da QUEPAZ.

Se você tem ou já teve algum contato com o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) possivelmente já ouviu frases como “hoje o TDAH está na moda todo mundo tem” ou “não conseguir se concentrar é uma desculpa”. Pode ter visto muitos conteúdos com informações erradas nas redes sociais sobre esse assunto, principalmente no tiktok e instagram. Ou pode até ter ouvido profissionais da área da saúde mesmo falando “se não tinham TDAH na escola, o TDAH em adultos não vai surgir”.

Nosso objetivo criando esse texto é falarmos sobre o TDAH de uma forma segura e científica. Afinal, muito do que se ouve e fala sobre esse diagnóstico está errado, apenas contribuindo para estigmas. Então aqui te fazemos um convite: vem com a gente aprender mais sobre o TDAH! 🙂

dica: se você vai iniciar a sua leitura agora, não esqueça de colocar a tela do celular para baixo ou excluir outras abas abertas caso esteja usando o computador. Tirar distrações da nossa volta nos ajuda a manter a atenção. Boa leitura!

O que é TDAH em adultos e como identificar?

O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é um transtorno neurobiológico que afeta pessoas tanto na infância e adolescência quanto na vida adulta. O TDAH é um transtorno neurobiológico, ou seja, o cérebro da pessoa com TDAH funciona de forma diferente (atenção: diferente, não errado).

Pessoas com TDAH podem apresentar diferenças em algumas áreas do cérebro, como o córtex pré-frontal e o sistema límbico, por exemplo. O primeiro cuida do controle executivo, nossa habilidade de organização, planejamento e adaptação. O segundo, por sua vez, é responsável pela regulação das nossas emoções e motivação. Além disso, uma redução na atividade de neurotransmissores como a dopamina e noradrenalina também ocorrem em pessoas com TDAH e é justamente por ser um transtorno tão conectado a questões biológicas que um dos seus tratamentos chave é a medicação (que vamos explicar para vocês já já!)¹

Apesar do nome ser “Transtorno do déficit de atenção e hiperatividade”, o TDAH vai muito além desses dois sintomas. Confere aqui uma lista cheia de detalhes dos sintomas de acordo com cada domínio:

Desatenção:

  • Dificuldade de prestar atenção a detalhes ou comete erros por descuido em atividades escolares, profissionais ou outras
  • Dificuldade de manter a atenção em tarefas lúdicas (por exemplo, em leituras)
  • Parece não ouvir quando se fala diretamente com a pessoa
  • Dificuldade em seguir instruções ou completar tarefas e obrigações
  • Dificuldade em organizar tarefas e atividades
  • Evita tarefas que exigem esforço mental prolongado
  • Perde objetos
  • Se distrai muito fácil com estímulos externos, como sons ou movimentos

Hiperatividade:

  • Inquietação frequente, como mexer mãos e pés ou se contorcer na cadeira
  • Dificuldade em ficar sentado, em especial em situações onde se espera isso do adulto
  • Correr em situações que não são próprias para tal atividade
  • Dificuldade em brincar ou se envolver em atividades de forma tranquila
  • Parece estar sempre “ligado no 220” ou com excesso de energia

Impulsividade:

  • Falar antes de pensar, interrompendo os outros
  • Dificuldade em esperar a vez em atividades ou situações de grupo
  • Dificuldade em controlar impulsos ou adiar gratificação
  • Comportamentos impulsivos, como gastar dinheiro sem pensar ou se envolver em atividades perigosas

Desregulação Emocional:

  • Mudanças de humor intensas e frequentes
  • Irritabilidade
  • Baixa tolerância à frustração
  • Aversão a emoções negativas
  • Tendência a agir impulsividade em resposta a emoções intensas

Esses sintomas também podem mudar de pessoa para pessoa e dependem muito de um conjunto de fatores complexo: nossa personalidade, quais estratégias desenvolvemos ao longo da vida para lidar com essas dificuldades, se fazemos tratamento ou não e até mesmo nossa idade!

Em crianças, por exemplo, a hiperatividade pode ser um sintoma gritante (quem nunca viu aquele primo correndo, escalando móveis ou girando a cadeira sem parar?). Adultos não costumam demonstrar hiperatividade dessa maneira, mas, no geral, não conseguem parar de mexer as mãos, pernas ou relatam uma inquietação interna, sendo algo sutil em alguns casos.

Então, isso significa que se me identifiquei com os sintomas provavelmente tenho TDAH?

Há uma chance que sim! Porém, para o diagnóstico ser conclusivo, é necessário que a pessoa apresente um padrão persistente desses sintomas e que interfira no seu funcionamento e desenvolvimento ao longo da vida. Esses sintomas também podem ser decorrentes de outros transtornos (o que chamamos de “diagnóstico diferencial”) que têm traços muito parecidos com os de TDAH. Por isso é tão importante que você busque um especialista se estiver com essa pulga atrás da orelha.²

como o adulto se sente quando os sinais de TDAH surgem
Fonte: Charlotte May

Como é uma crise de TDAH em adultos?

Entendemos crise como um momento em que a pessoa sente que não tem recursos emocionais necessários para lidar com a situação que está vivenciando. Quando alguém está em crise, um montão de sensações se misturam e isso vai gerando um desespero grande. A pessoa com TDAH pode apresentar crises, mas talvez a melhor terminologia para usarmos aqui seja “momentos críticos”.

Um dos momentos críticos mais comuns para alguém com TDAH é o que chamamos de “paralisia” . Ou seja, aquela sensação de não conseguir sair do lugar nem para fazer “o que precisa ser feito”, nem para relaxar e ter lazer. Essa paralisia pode surgir por muitos fatores, como, por exemplo, a dificuldade em manter o foco, falta de motivação ou regular a emoção.

Mudanças bruscas na rotina, lidar com prazos apertados, dificuldade em lidar com críticas, frustração com nossa própria memória, tarefas que exigem organização e ambientes com muitos estímulos sensoriais também podem levar à mudanças abruptas de humor, o que chamamos de desregulação emocional. Ansiedade, raiva, tristeza e impulsividade entram em ação e muitas vezes acabamos chorando, gritando ou nos isolando completamente.

Por fim, é vital saber que pessoas com TDAH podem apresentar outros transtornos. Chamamos eles de “comorbidades” e isso pode aumentar e mudar os tipos de crises apresentadas.

Transtornos que podem estar ligados ao TDAH

É raro que uma pessoa com TDAH tenha apenas esse diagnóstico, apesar de poder ter somente ele sim. A maior parte das pessoas sofrem com o que chamamos de comorbidades – diagnósticos adicionais e que coexistem junto ao TDAH.

Os mais comuns são:

  • transtornos de ansiedade,
  • transtornos de humor como a depressão,
  • sintomas obsessivo-compulsivos,
  • transtornos de personalidade e
  • abuso de substâncias (pessoas com TDAH podem usar drogas como álcool e maconha como uma forma de automedicação, muitas vezes sem nem tomar conhecimento disso).

Além disso, quando uma pessoa adulta recebe o diagnóstico de TDAH, é bem comum vermos respostas traumáticas e de inconformidade com esse diagnóstico tardio.

Por não terem conhecimento do transtorno, muitas pessoas passam a vida escutando que são preguiçosas, burras, descomprometidas, “cabeça de ovo” ou estranhas. Então, perdem oportunidades, o que afeta muito suas escolhas, relações e isolamento. Este também é outro fator muito importante a ser tratado no processo de psicoterapia pois influencia diretamente na autoestima da pessoa.

Como é uma pessoa que tem TDAH?

Há vários sinais que podem nos ajudar a identificar uma pessoa que possui TDAH. Mas antes, precisamos lembrar que uma pessoa com TDAH tem uma personalidade antes de qualquer coisa.

Fatores como o temperamento genético, suas vivências e aprendizagens da infância e adolescência pelo ambiente familiar e escolar, por exemplo, contribuem muito para a diversidade das características do TDAH.

Por exemplo: uma família com melhor organização e rotina pode ajudar desde cedo a manejar os sintomas. Contudo, famílias mais rígidas e críticas podem piorar sintomas a partir de cobranças e culpa. Então não é tão simples assim! Muitas coisas podem contribuir de forma positiva (ajudando no manejo e até “escondendo” sintomas) e negativa (intensificando ainda mais as dificuldades).

Mas vamos aos sinais mais comuns: a falta de atenção! Pessoas que têm TDAH normalmente se veem como esquecidas (esquecem compromissos e objetos) e sem organização (com dificuldade em planejar atividades), como se fosse “parte da sua personalidade que sempre esteve presente”.

Podem parecer distraídas muitas vezes, “no mundo da lua”. Isso pode surgir, então, na dificuldade de acompanhar conversas e reuniões de trabalho ou em momentos de realizar atividades obrigatórias mais monótonas que consideram mais chatas, mesmo (diga-se de passagem, muitas vezes isso causa a procrastinação, sabia?).

O hiperfoco no TDAH em adultos: como funciona?

Além disso tudo que já conversamos, existe um detalhezinho que pode ocorrer dentro desse pilar da atenção e que causa uma sensação contrária a desatenção: o hiperfoco. É algo bem comum, aliás! Na verdade, o hiperfoco é uma habilidade de concentração intensa em alguma tarefa específica.

Ele está super ligado a liberação da dopamina no cérebro – então, imagina só esse hormônio do prazer e humor a mil no cérebro! Isso pode ser suuper útil e contribuir para a motivação e conclusão de uma tarefa. Entretanto, isso pode acabar sendo prejudicial por alguns fatores.

O primeiro é que essa atividade alvo do hiperfoco pode acabar sendo algo não tão importante. Pode ser qualquer atividade mesmo (como, por exemplo: jogos, alguma leitura de assunto específico, atividade de trabalho…).

E isso faz com que outras atividades urgentes ou que deveriam ser feitas naquele momento sejam procrastinadas. E o segundo ponto é que ela pode causar um envolvimento tão grande da pessoa que faz com que ela ignore outras distrações ou atividades. Até mesmo beber água ou comer.

TDAH em adultos e a impulsividade

Outro sinal é a impulsividade e hiperatividade. Já viu alguém que fica balançando os pés, escorregando na cadeira ou que tenha a necessidade de movimentar algo do corpo quando está fazendo uma atividade? Então, isso pode ser parte da agitação do corpo que ocorre no TDAH em adultos. Essa mesma agitação pode ocorrer por dentro também. Elas podem se sentir tensas cronicamente ou em uma “cascata de pensamentos sem fim”. Ou seja, pensamentos bem rápidos. Além disso, podem acabar tomando atitudes impulsivas, como mudanças de emprego ou relacionamento, ou ter comportamentos de “falar sem pensar”. O que pode afetar principalmente relações pessoais.

“Tempestade em copo d’água” – mas será?

O último sinal para prestarmos atenção é o de instabilidade emocional. Mudanças rápidas e frequentes de humor é algo que pode ocorrer em contextos de insatisfação geral, tédio e busca de estímulos mais divertidos – que liberem a dopamina mesmo. Para quem olha de fora, pode ser que veja situações pequenas gerarem alterações de humor. Ao longo do tempo isso pode trazer sensações de vazio e esgotamento para a pessoa.

Apesar das dificuldades, há muitas características positivas e talentos que uma pessoa com TDAH apresenta e pouco se fala sobre isso.

Geralmente são caracterizados pela criatividade e curiosidade (o que leva a aprendizagens sobre diferentes assuntos), pela energia e vitalidade (que podemos aproveitar na prática de exercícios e esportes), pela compreensão rápida (sim, um ótimo processamento de informação), além da espontaneidade (pode se tornar uma pessoa muito divertida de conviver). São pessoas que podem acabar assumindo tarefas mais desafiadoras e intensas, o que pode ser uma ótima qualidade no trabalho, inclusive.

Tratamentos para TDAH em adultos

O tratamento “padrão ouro” para TDAH em adultos é uso de medicações específicas para o transtorno que serão prescritas por um psiquiatra após avaliação do quadro. Além disso, há também tratamentos comportamentais que ajudam muito a pessoa a desenvolver habilidades de organização, gerenciar melhor o tempo e lidar melhor com os sintomas de impulsividade e hiperatividade.

Na terapia comportamental trabalhamos habilidades sociais (muito importantes para pessoas com TDAH) e também a identificação de padrões de pensamentos e modos de agir que não estão sendo legais para a pessoa. Isso a leva, então, a procrastinar, paralisar, se afastar de amizades ou sentir que sua vida está uma bagunça, sempre correndo atrás da roda.

É importante que cada tratamento seja pensado de acordo com a realidade da pessoa que procura, levando em conta suas necessidades, sintomas, histórico e preferências pessoais.

Como ajudar alguém com TDAH no dia a dia?

A primeira coisa que precisamos ter em mente é que a cobrança punitiva é diferente do incentivo e ajuda. Às vezes pela sensação de cansaço ou raiva podemos utilizar estratégias punitivas, principalmente com crianças. Isso pode acabar gerando muito desgaste emocional para essa relação e fazendo com que a pessoa com TDAH tenha a sensação de “sempre se sentir errada” ou de “nunca conseguir dar conta”. Acredite, uma pessoa com TDAH realmente tem dificuldades e ela se culpabiliza por isso, não é intencional. Tenha isso em mente. Por isso, é preciso ter um balanço entre aceitação e mudança para ajudar alguém a lidar com essas situações.

“Você não precisa aprovar algo que está ocorrendo para aceitar que isso está ocorrendo”. Essa frase é da Marsha Linehan, a criadora da Terapia Comportamental- Dialética. Gostamos de pensar nessa frase pois ela traz o componente de aceitação que se precisa ter. As dificuldades vão estar presentes, independentemente se gostamos delas ou não. Mas isso não significa que você não pode fazer algo a respeito. O TDAH em adultos é apenas uma explicação do que ocorre, não uma desculpa das consequências. É necessário aceitar a responsabilidade dos seus planos e ações durante o dia. Apesar de não ser possível “escapar” do TDAH, é muito possível se adaptar, reduzindo e eliminando prejuízos negativos.

Aqui são algumas dicas para ajudar alguém com TDAH:

1- Recados para relembrar de eventos combinados.

Possivelmente a pessoa que tem TDAH vai acabar esquecendo de compromissos e coisas. Essa é uma realidade que precisamos aceitar. Inclusive, uma das coisas mais importantes dentro da terapia é a própria pessoa desenvolver o seu “sistema” para se lembrar de compromissos. A tecnologia pode ser super útil para ajudar.

2- Manter rotina e organização.

Pessoas com TDAH têm mais dificuldade em fazer planejamentos, você pode ajudar dando o seu exemplo e incentivando que ela siga esse caminho. Lembre-se: incentivar não é fazer por ela, beleza?

3- Simplifique as coisas.

Seja objetivo e prático nos seus pedidos.

4- Paciência, a impulsividade é um sintoma.

É muito importante que outras pessoas ao redor dela ajam de forma mais ponderada e calma. Quando pensamos em calma, não pensamos em uma postura passiva a consequências, mas uma postura ativa e compassiva. É possível dar feedbacks gentis.

5- Conheça mais sobre o TDAH em adultos e suas dificuldades

Temos algumas indicações de livros muito bons para te ajudar com isso!

dica: o quepaz tem desconto em todos os livros da editora Artmed, incluindo esse acima! Entrando no site deles e usando o cupom QUEPAZ você ganha 20% de desconto.

Outras indicações para o tema são os livros A Coragem de Ser Imperfeito, de Brené Brown, e As Virtudes do Fracasso, de Charles Pépin

Fontes: ¹ – Cortese, S., Kelly, C., Chabernaud, C., Proal, E., Di Martino, A., Milham,
M. P., & Castellanos, F. X. (2012). Toward systems neuroscience of ADHD: a meta-analysis of 55 fMRI studies.

² – Fonte: DSM 5-TR

ÚLTIMAS POSTAGENS

Laura Do Valle e Karina Tagliari

Laura do Valle - psicóloga, especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental e Psicologia Organizacional, mestre em Psicologia Clínica com formação em DBT. Atua como psicóloga clínica, professora e supervisora.

Karina Tagliari - psicóloga, especializanda em Terapia Cognitivo-Comportamental, com formação em Terapia de Aceitação e Compromisso pela USP e em Psicoterapia Baseada em Evidências pelo InPBE. Atua como psicóloga clínica e é fundador da QUEPAZ.

ÚLTIMAS POSTAGENS

estou em risco de vida!

O centro de valorização da Vida realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo de forma voluntária. Para conversar acesse os links abaixo.

let's get social

início

quem somos

encontre seu match psi

para psis

serviços

quepaz stories

início

quem somos

encontre seu match psi

para psis

serviços

quepaz stories

Caso você queira achar um psicólogo, vem nos conhecer e agendar uma sessão!

Os valores dos psicólogos podem variar de R$ 80,00 até R$ 160,00