Quando a gente fala de bipolaridade temos muitos conceitos errados e muitos estigmas envolvendo tanto a palavra quanto o diagnóstico. Por exemplo, a palavra “maníaco”. Você já ouviu essa palavra? Normalmente, usam essa palavra para falar de alguém que está muito obcecado ou muito envolvido em determinado assunto ou situação. A palavra se tornou um adjetivo não muito legal para rotular esse tipo de comportamento.
Outro exemplo é a palavra “bipolar”, muitas pessoas usam essa palavra para falar de uma reatividade emocional (ex: quando alguém tem uma oscilação de humor frente a situações do dia-a-dia ou parece mudar de ideia muito rápido). Lembra daquela música da Katy Perry? Hot N’ Cold?
Someone call the doctor
Got a case of a love bipolar
Stuck on roller coaster
Can’t get off this ride
Alguém chame um médico
Temos um caso de amor bipolar
Estou presa em uma montanha russa
E não consigo descer
É, de fato existem “altos e baixos”… mas bipolaridade não é bem isso não. A nossa proposta com esse artigo é pensar junto com vocês sobre a bipolaridade como uma condição médica/psiquiátrica que merece cuidado, atenção e reconhecimento. Vamos te convidar a conhecer o que é o transtorno bipolar e sintomas, quais são os tipos e, principalmente, como reconhecer que alguém precisa de ajuda.
O que é o transtorno bipolar?
Uma coisa muito importante sobre o transtorno bipolar é que a sua causa é bastante complexa. Para vocês terem ideia, ele é o resultado da interação entre a genética e o ambiente. Ou seja, existem fatores genéticos associados (até olhando para a árvore genealógica da família) mas isso pode nunca aparecer por si só. Às vezes o aparecimento e a evolução da bipolaridade podem aparecer junto com dificuldades da vida (ex.: depois de traumas precoces), ou até por uso de álcool e drogas.
Então, uma coisa influencia a outra: o surgimento pode ter relação sim com estresses precoces, mas não necessariamente é causado somente por isso. A parte biológica existe e isso pode influenciar até na idade de início do transtorno. Então, é algo bem complexo!
Para dar continuidade a essa discussão, acreditamos ser importante compreendermos a jornada do humor. E isso é fundamental para entendermos a bipolaridade.
O humor é um termômetro interno que fala sobre nosso ânimo. E nem sempre ele vai estar igual. Existem dias que estamos mais tristes do que outros, por exemplo. Mas ele, de certa forma, é constante.
O que é um humor “normal”?
Um humor “normal” é chamado de humor eutímico por quem é da área! É um humor que não flutua entre os extremos, mas que pode ter uma oscilação pequena que se alterna em diferentes situações da nossa vida.
Porém, e quando o humor passa de pequenas alterações para uma grande oscilação? Aí que entram os “episódios”, ou seja, períodos de uma ou mais semanas de um pico ou uma queda no humor, de forma brusca e repentina.

Episódio Maníaco | Episódio Hipomaníaco | Episódio Depressivo |
– sentimento de “super-herói”, como se fosse capaz de tudo. (grandiosidade e autoestima inflado) – sentir a necessidade de falar muito/ ou perceber a pessoa falando muito e com uma certa “pressão” para falar, misturando vários assuntos diferentes no mesmo discurso (chamamos isso de fuga de ideias) – redução da necessidade do sono (ex: dormir 3 horas e já se sentir disposto) – envolver-se em atividades que se expõe a riscos (ex.: compras intensas e desenfreadas, uso de substâncias, direção perigosa, aumento da atividade sexual) | os sintomas de um episódio hipomaníaco vão ser muito parecidos com os de um episódio maníaco, a única diferença será da intensidade. ele vai ser levemente mais intenso do que o episódio maníaco. e, por isso, a pessoa acaba se colocando menos em risco. | – humor deprimido em grande parte do dia – sentimento de tristeza – perda de interesse nas coisas que lhe davam prazer antes – cansaço excessivo (aumento da necessidade de sono ou insônia) – desesperança. sentir que não vale a pena viver – pensamentos que envolvem não ver valor na vida, pensando em desistir. – perda ou aumento de peso |
nós temos um textinho super especial reservado para depressão, olha aqui! 🥰
*para fechar critério para qualquer um desses episódios, não necessariamente precisa apresentar todos os sintomas. por isso, reforçamos a importância para buscar ajuda psiquiátrica! assim, o olhar é especializado!
Como saber se você é bipolar?
Se você levantou a suspeita de que você ou alguém que você ama tenha bipolaridade, saiba que: o grande fator necessário é ter, no mínimo, um episódio de mania ou hipomania na vida. E esse momento deve ter uma duração mínima de uma semana e deve estar presente na maior parte do dia, quase todos os dias. Então esse estigma de que uma pessoa bipolar muda de uma hora para a outra no mesmo dia como dizem popularmente é um mito!! Existe uma duração de humor que perdura por um tempo, por isso falamos em “episódios”.
Não necessariamente precisa acontecer um episódio depressivo. Mas pode haver essas oscilações para o outro “polo” do humor também. Se uma pessoa nunca apresentou nenhum episódio maníaco ou hipomaníaco e apenas apresentou um ou mais episódios depressivos, ela não recebe o diagnóstico de bipolaridade, mas de depressão.
Vamos pensar em uma gangorra: em um momento estamos no alto da gangorra (episódios maníacos ou hipomaníacos), em outros podemos estar na parte baixa (episódios depressivos). E, em alguns outros momentos, a gangorra vai estar equilibrada! E, nesses casos, seria um humor eutímico. Ou seja, nem sempre a pessoa que tem bipolaridade vai estar sempre nos extremos! Ela pode estar com o humor estabilizado em alguns períodos.
Um erro comum feito por profissionais é não investigar para se certificar de que a depressão é realmente depressão ou se a pessoa já teve algum episódio de mania ou hipomania no passado e não sabia – por falta de informação mesmo. Isso pode levar ao tratamento errado e agravar mais o quadro de bipolaridade, pois são tratamentos muito diferentes.
⚠️Uma observação super importante: podemos apresentar vários episódios depressivos antes de manifestar um bipolar. Esse diagnóstico de fato não é simples de se fazer, por isso exige muito cuidado e atenção. ⚠️
Quais são os tipos de transtorno bipolar
Existem alguns tipos de variações no diagnóstico de bipolaridade e vamos apresentar aqui para que vocês conheçam um pouco mais!
Transtorno bipolar tipo I | Pelo menos um episódio maníaco que pode ou não ser precedido ou sucedido de episódios hipomaníacos ou depressivos. |
Transtorno bipolar tipo II | Pelo menos um episódio hipomaníaco que pode ou não ser sucedido ou sucedido de episódios depressivos.Atenção: se a pessoa tiver um episódio maníaco, ela se enquadra no Transtorno Bipolar tipo I. |
Transtorno Ciclotímico | Humor flutuante que envolve sintomas de hipomania ou mania (mas não fecham critérios para serem bipolaridade) ou de depressão (mas não fechando critérios para se classificar como depressão). Ou seja, tem alterações de humor em períodos, mas não conseguimos dizer que é bipolaridade nem depressão. |
Transtorno Bipolar induzido por substância | Quando a alteração de humor (episódios maníacos, hipomaníacos ou depressivos) é causada por intoxicação por substâncias ou exposição a uma medicação. A partir de exames laboratoriais é possível que o profissional consiga analisar as evidências. |
Transtorno Bipolar devido a outra condição médica | Quando a alteração de humor (episódios maníacos, hipomaníacos ou depressivos) é causada por outra condição médica, é comprovada por evidências e exames físicos ou laboratoriais. Como exemplo podemos pensar na doença de Cushing, esclerose múltipla, AVC e lesões cerebrais traumáticas. |
Como lidar com uma pessoa bipolar?
Os transtornos de humor afetam a vida da pessoa num todo! E isso significa que, por consequência, irá afetar suas relações. Então, normalmente, esse é um diagnóstico que acaba influenciando muito a família.
Como falamos anteriormente, normalmente um algum evento estressor que pode desencadear o episódio e, por isso, observar o momento de vida em que os primeiros sintomas acontecem é importante. Houve um acidente importante na família? Qual era o momento que aquela família vivia? Como a família lidou com os primeiros sintomas?
Além disso, como explicamos, é um diagnóstico que tem aspectos genéticos muito importantes. Então, como funciona isso na família? Como as outras pessoas apoiam ou não esse diagnóstico?
Entendemos que não é fácil lidar com alguém com bipolaridade! Por isso encorajamos que todos os envolvidos busquem ajuda! Terapia individual e a terapia familiar pode ser fundamental para todos entenderem suas responsabilidades e suas dificuldades frente a esse novo momento de vida.
O tratamento da Bipolaridade
O tratamento da bipolaridade é para a vida toda! Então, o primeiro passo é entender o que é esse transtorno! Então, tire suas dúvidas com seu profissional de confiança! Aprenda sobre o transtorno!
A psicoterapia é um ponto de partida inicial importante pois ela: ajuda na identificação de gatilhos de virada de humor (o que pode prevenir recaídas futuras), olha para a motivação e o enfrentamento da bipolaridade e ajuda na reorganização da vida (muitas pessoas podem ter problemas em suas vidas causados pela bipolaridade, entre os mais comuns – dívidas, problemas de relacionamento desde insatisfação até violência, problemas com a lei, uso de substâncias, desemprego ou dificuldade de manter um trabalho, entre muitos outros).
Com isso, provavelmente vão te dizer uma grande verdade: a medicação é a parte mais importante do tratamento! Só existe tratamento com consulta com um psiquiatra e seguindo as orientações dele! Somente assim, a terapia pode acontecer 💛
E, assim, teu psicólogo vai te ajudar a identificar aqueles padrões e gatilhos que acontecem antes que o seu humor mude! Juntos, vocês podem pensar em uma rede de apoio que forneça segurança e cuidado para ti! E poderão reforçar como a medicação é parte fundamental do processo. Ah, e para termos sucesso nesse processo, uma terapia familiar pode ser importante para ajudar todos a observarem os sinais e te ajudarem a lidar da maneira mais leve possível!
Uma indicação cheia de carinho das psis: