Ana Aguinsky & Maria Isabel

novembro 19, 2025

Reflexão crítica nas redes sociais:
como pensar antes de opinar?

Ted Cavanaugh

Em tempos de manchetes rápidas e opiniões instantâneas, pensar antes de opinar tornou-se um ato de consciência. Este texto é um convite à pausa: desenvolver um olhar mais crítico sobre o que lemos e consumimos nas redes,  sem permitir que o algoritmo pense por nós.

No fim de outubro, uma matéria da Vogue acendeu um debate curioso: “Is having a boyfriend embarrassing now?”. E, em poucos dias, o título se espalhou pelas redes e dividiu opiniões: de um lado, quem defende que namorar não tem nada de constrangedor; de outro, quem viu no texto um elogio à vida solteira.

Mais do que uma discussão sobre relacionamentos, esse texto acende uma luz sobre algo que atravessa quase tudo o que fazemos online: a pressa de concluir antes de compreender.

Vivemos conectados a um ritmo que não dá trégua e, nesse fluxo, chegar até o fim de um texto virou quase um ato de resistência.

Mesmo quando o tema desperta curiosidade, é comum parar no meio do caminho, rolar a tela e seguir adiante. Mas é justamente aí que perdemos o essencial: o contexto, as nuances, aquilo que transforma uma opinião apressada em um pensamento genuíno.

Então, antes de continuar a leitura, tente observar: você costuma ler até o fim ou só o que cabe no tempo entre uma notificação e outra?

Estamos realmente lendo ou apenas consumindo o resumo do resumo?

Com um pouco de sinceridade, dá para perceber que, na maioria das vezes, paramos justamente aí, no fragmento. A manchete, o tweet, o vídeo curto… e já criamos a sensação de que entendemos o todo. Não se trata de julgamento — faz parte do desejo de acompanhar o que está acontecendo, mesmo quando o tempo e a disposição não ajudam.

Mas, nesse formato acelerado, o que chega até nós é um recorte da informação, e não a experiência completa. Vivemos uma era em que o tempo de atenção vale ouro, então tudo é feito para caber em poucos segundos. Com isso, acabamos deixando de perceber algo que está bem na nossa frente: o que a gente ganha em velocidade, na maioria das vezes, acabamos perdendo em profundidade. 

O risco é que, ao consumir apenas resumos, passamos a construir opiniões a partir de ideias já filtradas por outras pessoas e não de uma reflexão própria.

Por isso, antes de compartilhar, comentar ou sustentar um ponto de vista, vale uma pausa: “Eu realmente li até o fim ou apenas acreditei que entendi porque alguém resumiu para mim?”

QuePaz no Instagram! 

De onde vem essa urgência em reagir tão rápido ao que lemos?

Talvez essa urgência venha do desejo de participar, de não ficar à margem do que acontece. A internet apenas acelera o que já é humano: o impulso de reagir antes de refletir.

A boa notícia é que esse impulso pode ser reaprendido. Viktor Frankl expressa isso com clareza em sua obra, Em Busca de Sentido: “Entre o estímulo e a resposta existe um espaço. Nesse espaço está o nosso poder de escolher a resposta. E, nessa escolha, estão o nosso crescimento e a nossa liberdade.” Em outras palavras, é nesse intervalo entre sentir e reagir que nasce a possibilidade de agir com consciência.

Leia também: Conversas difíceis: o que a psicologia diz sobre comunicar necessidades

O problema está na internet ou na forma como nos relacionamos com ela?

Talvez a resposta mais sincera seja menos sobre escolher um lado e mais sobre reconhecer um espelho. A internet amplifica o que já está em nós: opiniões, desejos de pertencimento, necessidade de ser ouvido. Mas como nos relacionamos com esse espelho é o que realmente define o quanto conseguimos permanecer conscientes dentro dele.

Eu entendo que às vezes é mais fácil bater o olho em algumas discussões e pensar: “isso só existe porque estamos todos online demais”. E, talvez, metade das polêmicas sumissem se a gente simplesmente desligasse o Wi-Fi. Mas a outra metade continuaria ali, porque o que aparece nas telas não é um mundo paralelo, mas um reflexo (muitas vezes distorcido) do nosso.

A questão é que vivemos conectados, então estudar, trabalhar, se informar, relaxar… tudo passa pela tela. 

E, no meio disso tudo, talvez valha perguntar: até que ponto deixamos que as redes decidam o que pensar, o que sentir e o que considerar importante? Pode ser que sim. Ou talvez tenha mais a ver com aquele alívio rápido que buscamos ali dentro, a sensação confortável de estar “por dentro”, mesmo quando não estamos, de fato, presentes. 

É exatamente nesse ponto que pequenos lembretes internos começam a fazer diferença. Post-its mentais que devolvem escolha, critério e consciência:

  • Em vez de consumir o que aparece, escolher o que quer acompanhar.
  • Em vez de responder tudo, focar no que importa.
  • Em vez de levar cada discussão para o pessoal, notar se aquilo tem realmente a ver com você.

Por isso, fica fácil entender que o grande problema não está em acessar a internet, mas em como a gente tem deixado ela decidir o que pensar por nós. E talvez o primeiro passo para mudar isso seja mais simples do que pareça: lembrar que pensar por conta própria ainda é transformador/revolucionário, mesmo (ou principalmente) em tempos de algoritmo.

Leia também: Você é expert em se comparar? 5 dicas para viver com mais leveza!

Então… como desenvolver esse olhar mais crítico no dia a dia?

Antes de qualquer coisa: “não saber” já é um começo. Ficar em cima do muro, por um tempo, é sinal de reflexão, de espaço, muito diferente da obrigação de ter uma ideia formada, de imediatismo. A partir daí, alguns passos práticos podem ajudar.

  1. Pare e repare (antes de reagir)
    – Quantas vezes viu esse conteúdo hoje? Foi um post, um vídeo, vários reshares? Quando a mesma ideia aparece o tempo todo, talvez não seja fruto da sua reflexão, mas do algoritmo insistindo em uma mesma narrativa.
  2. Cheque quem está falando
    – Quem compartilhou? É alguém com domínio naquele tema? É um perfil com interesse claro (influencer, marca, meme)? Aqui cabe tentar identificar o ponto de vista e o possível interesse por trás do conteúdo, se houver.
  3. Reforce sua curiosidade: leia além do recorte
    – Abra o link. Leia o texto inteiro (mesmo que dê trabalho). Muitas manchetes são “clickbait”, ou seja, o corpo do texto costuma trazer mais contexto, nuances e até contradições (como aconteceu com o da Vogue).
  4. Questione a coerência com a sua vida
    – Pergunte-se: isso faz sentido no meu cotidiano, nas minhas experiências, nos meus valores? Se a ideia soa bem porque está viralizando, pode não sobreviver ao teste da realidade pessoal.
  5. Procure contrapontos
    – Tem alguém discordando? Existem argumentos fortes na outra ponta? Ler posições diferentes ajuda a ver o panorama completo e evita virar repetidor de frases prontas.
  6. Observe sua reação emocional
    – Sentiu raiva? Dúvida? Vergonha? Emoções são úteis e normalmente sinalizam algo importante, mas também podem atrapalhar o pensamento crítico se você responder no calor do impulso. Respire, espere alguns minutos e reavalie.

Por fim, esse texto não é sobre concordar ou discordar da Vogue, mas sim pensarmos em conjunto para onde esse movimento está nos levando. 

E se algo aqui te fez refletir, discordar, lembrar de uma conversa ou mudar o jeito de ver um assunto, conta pra gente lá no Instagram @quepaz.cc 💛. Sua opinião é muito valiosa e a gente adora quando o papo sai da tela e vira troca de verdade 

Esperamos que esse tempinho que você tirou para ler até aqui tenha acrescentado por aí! 

Até o próximo texto
Com amor,
Ana Aguinsky & Maria Isabel | time quepaz.cc

Escrito por:

Ana Aguinsky & Maria Isabel

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