Dores de relacionamento: como a terapia pode ajudar a transformar seus vínculos
Publicado em 12 de junho de 2025 | quepaz.cc (Edição e direção: Ana Aguinsky, Psicóloga Clínica e Terapeuta do Esquema)
O Dia dos Namorados costuma nos levar a celebrar o amor com flores, jantares e declarações. Mas por trás dessas imagens idealizadas, muita gente convive com dores reais nos relacionamentos. Quando dois mundos diferentes tentam se encontrar, é comum que apareçam desencontros, feridas antigas e conflitos difíceis de nomear. Por isso, esse texto é um convite: reconhecer o que dói também faz parte do amor.
E se o amor nunca tiver sido algo que você aprendeu a viver com segurança?
Talvez você olhe ao redor e veja pessoas em relações estáveis, enquanto se sente sempre à margem — como se houvesse um jeito “certo” de amar que você não domina. Essa dúvida aparece com frequência na clínica. Às vezes, vem como cansaço. Em outras, como medo de repetir o que machucou.
A gente quer te lembrar: amar e ser amado não é privilégio de poucos — é um direito. E embora o amor pareça simples nas imagens, viver o amor na prática envolve história, contexto, experiências passadas… e muita coragem.
O amor é um direito humano. Mas nem todo mundo aprendeu formas seguras de amar.
E sim, é possível reaprender.
O mapa da nossa conversa:
- Por que nos apegamos a certos padrões de relacionamento
- O que significa “escolher melhor” e por que isso é tão difícil
- Como a terapia pode ajudar a construir vínculos mais saudáveis
- Como terapeutas da quepaz.cc podem apoiar você nesse processo
Seu jeito de amar
Talvez você tenha aprendido que se relacionar exige sacrifício. Que é preciso colocar o outro em primeiro lugar. Que, se for muito você mesma, será deixada para trás.
E se esses jeitos de amar não forem sinal de falha, mas de sobrevivência? Tentativas legítimas de garantir afeto, pertencimento e proteção em contextos onde isso era escasso?
A boa notícia: é possível aprender formas mais leves de se relacionar.
Padrões que surgem da insegurança emocional
Crescer em ambientes inseguros emocionalmente molda a forma como nos relacionamos. Exemplos comuns:
- Ficar em silêncio para evitar conflito.
- Concordar para agradar, mesmo discordando.
- Estar sempre disponível, mesmo exausta.
- Esconder o que sente para não parecer “demais”.
- Dizer “sim” com medo da rejeição.
- Fazer tudo sozinha para não incomodar.
- Aceitar migalhas como se fossem amor.
Esses comportamentos são tentativas profundas de manter o vínculo — mesmo que custem a própria paz.
Quando o que machuca parece amor
Você já esteve em relações emocionalmente cansativas e difíceis de deixar?
Isso é mais comum do que parece. A razão? Nosso cérebro busca familiaridade, não segurança.
Se amor, para você, significou ausência, exigência ou dor, talvez seja isso que seu cérebro ainda busque — não por escolha, mas por repetição.
Perguntas comuns que surgem na terapia:
- “Será que exijo demais?”
- “Por que dou tanto e recebo tão pouco?”
- “Por que toda relação me esgota?”
A resposta nem sempre está em um defeito seu, mas nos modos como você aprendeu a se proteger emocionalmente.
Como a terapia pode ajudar de verdade
Transformar nossos vínculos exige tempo, apoio e consciência. A neurociência mostra: nosso cérebro é plástico — ou seja, é possível mudar.
Uma boa terapia é, antes de tudo, um espaço de vínculo verdadeiro. Onde você pode se expressar, colocar limites e ser acolhida como é.
Na quepaz.cc, terapeutas atuam com diferentes abordagens, respeitando sua história, seu tempo e sua singularidade.
Abordagens terapêuticas para cuidar do amor
🔹 Terapia do Esquema

O amor começa onde ninguém vê: na infância
Muito antes dos relacionamentos adultos, aprendemos sobre amor na infância. A Terapia do Esquema ajuda a entender como experiências precoces moldam o que hoje chamamos de amor. Como era ser criança na sua casa? Será que tinha afeto? Escuta? Presença emocional? Ou o amor vinha condicionado, silencioso, carregado de exigências e medo?
Se carinho, escuta ou presença emocional eram instáveis ou condicionados, aprendemos a nos moldar para manter vínculos. Mesmo em relações seguras, esses “modos de sobrevivência” ainda podem surgir como ansiedade, retraimento ou insegurança.
A Terapia do Esquema ajuda a compreender como essas marcas do passado continuam influenciando os relacionamentos do presente. Com acolhimento e construção de um espaço seguro, você aprende a reconhecer esses modos de sobrevivência — e aos poucos, acessa seu modo adulto saudável: aquele que se expressa com clareza, cuida de si e se vincula com verdade.
📘 Leitura recomendada: Reinvente Sua Vida, de Jeffrey Young — criador da Terapia do Esquema. Um guia prático, acessível e transformador para quem quer entender seus padrões emocionais e começar a mudar com mais consciência. É simplesmente fantástico.
🔹 Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC)
Com Estela Wojciechovski e Letícia Capello
Muitas vezes, o que machuca não é o que você sente — mas o que você pensa sobre o que sente.
Frases como:
“Preciso estar sempre disponível para ser amada.”
“Se eu disser o que penso, vou ser rejeitada.”
“Amar exige sacrifício.”
…podem parecer verdades absolutas. Mas, na verdade, são crenças internalizadas que moldam a forma como você se relaciona — consigo mesma e com os outros.
Se você já se sentiu travada ao tentar se abrir, se envolveu e acabou emocionalmente exausta, ou se hoje evita qualquer possibilidade de vínculo por medo de se machucar de novo, esse espaço é para você.
A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) ajuda a identificar e transformar pensamentos automáticos e padrões de comportamento que impactam sua vida afetiva.
É uma abordagem eficaz tanto para quem está buscando se relacionar de forma mais saudável quanto para quem já vive uma relação de muitos anos e sente que algo importante se perdeu pelo caminho.
Discussões que sempre voltam aos mesmos pontos, sentimentos de frustração acumulados, falta de escuta ou distanciamento emocional: a TCC oferece um espaço seguro para trabalhar tudo isso.
Como um bom time de terapia, vamos:
- Reconhecer seus padrões emocionais negativos (como culpa, cobrança, rejeição);
- Desenvolver uma comunicação mais clara e empática;
- Aprender a lidar com conflitos cotidianos (dinheiro, filhos, divisão de tarefas);
- Reforçar a intimidade, a escuta e a parceria no dia a dia.
A TCC é um caminho para se amar com mais clareza — e se relacionar com mais paz, em qualquer fase da vida afetiva.
📘 Estela recomenda: Ame-se e Não Se Deixe Amar, de Walter Riso.


🔹 Terapia Focada na Compaixão (TFC)
Com Natasha Cerski

Nem sempre o amor chega à terapia com esse nome. Ele pode se manifestar como frustração nos relacionamentos, como a sensação de que algo está errado, mas difícil de identificar. Às vezes, é o cansaço de se doar demais ou o incômodo de não conseguir se conectar com ninguém.
A Terapia Focada na Compaixão entende que muito do nosso sofrimento vem da forma como nos relacionamos com a dor — especialmente a nossa. Por isso, o primeiro passo é construir um vínculo terapêutico seguro: baseado em respeito, estabilidade e presença.
Na TFC, trabalhamos com a ideia de que temos três sistemas emocionais básicos:
- Sistema de ameaça – responsável pela autodefesa e vigilância constante (como medo, vergonha, autocrítica);
- Sistema de busca de recompensa – ligado à motivação, conquista, desempenho;
- Sistema de autocuidado e calma – ativado pela segurança emocional, vínculos estáveis e compaixão.
O desafio é fortalecer esse terceiro sistema.
E isso começa na própria relação terapêutica — onde, ao ser acolhido(a) com respeito e gentileza, você reaprende a se tratar com mais presença, humanidade e equilíbrio.
“Nossa tarefa não é procurar amor, mas apenas remover as barreiras que construímos contra ele.”
— Rumi

🔹 Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT)
Com Eduarda Fontan

“O amor não exige perfeição — só presença e verdade.”
Muita gente chega à terapia esgotada. Aos poucos, percebemos que esse cansaço não vem apenas das relações, mas da tentativa constante de ser perfeita para merecer amor.
Na ACT, não buscamos eliminar o sofrimento, mas ampliar sua escuta. Isso significa reconhecer pensamentos difíceis e emoções dolorosas — como culpa, vergonha ou medo da rejeição — sem se fundir a eles.
A terapia se torna um espaço seguro para entrar em contato com o que realmente importa. Ao se reconectar com seus valores, você ganha mais flexibilidade emocional para tomar decisões com consciência — e não apenas por medo de perder o outro.
Com o tempo, você ganha flexibilidade emocional e age com mais consciência.
Isso significa se posicionar com mais verdade e construir relações em que o amor não exige esforço constante, nem o apagamento de si.

📘 Eduarda recomenda: Brené Brown – A coragem de ser imperfeito
Um convite sincero à vulnerabilidade e à autenticidade nos vínculos.
🔹 Psicoterapia Integrativa (Gestalt + Psicodinâmica)
Com Daniela Lipka

Na Gestalt-terapia, as questões relacionais são trabalhadas a partir de como você se coloca nos vínculos — inclusive no vínculo com a terapeuta. O foco está no que acontece aqui e agora: como você se aproxima? Como se protege? O que sente quando alguém realmente te vê?
Se você aprendeu a amar se calando, agradando ou se adaptando demais, esses padrões podem surgir em sessão. E é justamente a partir deles que, com apoio, você pode experimentar novas formas de contato: mais autênticas, com menos esforço e mais presença.
O espaço terapêutico se torna um lugar seguro para testar o que antes parecia arriscado: colocar limites, se expressar com verdade, sustentar o desconforto de ser quem você é — e ainda assim, permanecer em relação.
Esse é o trabalho: tornar visível o que se repete, abrir espaço para o novo e construir vínculos que façam sentido para quem você é hoje.
Amar, aos poucos, pode se tornar um caminho de volta pra casa. E essa casa é você.

💛 Um convite final
Se esse conteúdo te tocou, talvez seja hora de dar um novo passo.
Você não precisa mudar tudo de uma vez. Pode ser o início de um movimento mais consciente, mais leve e mais seu.
Na quepaz.cc, você encontra terapeutas preparados para te acompanhar com presença, escuta e responsabilidade.
O amor também é pra você. Comece por você.

A Ana é fundadora da quepaz e, pra essa conversa que atravessa todos nós — o jeito como nos relacionamos —, ela convidou outras terapeutas especiais pra somar reflexões e cuidados.
Referências utilizadas e leituras recomendadas
Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC)
- Beck, Judith S. Terapia Cognitivo-Comportamental – Teoria e Prática (3ª ed.). Artmed.
- Braiker, Harriet B. A Síndrome da Boazinha. Ediouro.
- Leahy, Robert L. Técnicas de Terapia Cognitiva: Manual do Terapeuta (2ª ed.). Artmed, 2018.
Terapia do Esquema (TE)
- Young, Jeffrey E.; Klosko, Janet S.; Weishaar, Marjorie E. Terapia do Esquema: Guia de Técnica Cognitiva para Avaliação e Intervenção. Artmed.
- Young, Jeffrey E.; Klosko, Janet S. Reinvente Sua Vida. Academia.
Guia para o público geral, com base em evidências, que ajuda a identificar e modificar esquemas mal-adaptativos.
Terapia Focada na Compaixão (TFC) - Gilbert, Paul. The Compassionate Mind. Constable & Robinson.
Obra central do criador da TFC, que articula teoria, prática clínica e neurociência da compaixão. - Neff, K. D., & Germer, C. K. (2019). Manual de mindfulness e autocompaixão: Um guia para construir forças internas e prosperar na arte de ser seu melhor amigo (edição brasileira). Porto Alegre, Brasil: Artmed.
- Gilbert, Paul; Simos, Gregoris (Eds.). Compassion: Clinical Practice and Applications. Routledge.
Coletânea baseada em evidências para uso clínico da TFC em diversas condições psicológicas.
Gestalt-terapia e Psicodinâmica - Perls, Fritz. Gestalt Therapy Verbatim. Real People Press.
Transcrições fundamentais da abordagem, com foco na experiência do aqui e agora. - Spagnuolo Lobb, Margherita. The Now-for-Next in Psychotherapy: Gestalt Therapy Recounted in Post-Modern Society. Istituto di Gestalt.
Texto contemporâneo da Gestalt-terapia que integra corpo, relação e processos de mudança, com base em evidência fenomenológica e relacional. - McWilliams, Nancy. Psychoanalytic Psychotherapy: A Practitioner’s Guide. Guilford Press. Referência psicodinâmica baseada em evidência, com linguagem acessível e foco clínico relacional.
Fundamentos da PBE e neurociência aplicada à clínica
- Norcross, J.C.; Lambert, M.J. Psychotherapy Relationships That Work: Evidence-Based Therapist Contributions. Oxford University Press.
Livro essencial que demonstra, com dados, que a aliança terapêutica é um dos maiores preditores de sucesso clínico, acima da abordagem escolhida. - Siegel, Daniel J. O Cérebro da Criança. Paz e Terra.
Leitura acessível sobre como experiências emocionais moldam padrões de apego, comportamento e autorregulação — amplamente citado em psicoterapia relacional.