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Suicídio: o que não te falam sobre a perda

luto por suicídio

Falar sobre suicidio nunca é fácil. Porém, nós, profissionais da saúde, nos dedicamos a isso no mês de setembro. Então, nesse texto, a psi Marianne Branquinho irá te guiar na difícil tarefa de falar sobre o luto por suicidio.

Nós entendemos que é um assunto que pode gerar várias emoções desconfortáveis. Porém, estamos nos dispondo a fazer isso da maneira mais respeitosa, empática e carinhosa possível. 

O texto de hoje abordará assuntos como o que é o luto por suicidio, qual a diferença desse luto para os outros e como lidar com essa dor, que é única e singular. Esperamos que esse texto traga a tua atenção para o assunto e que seja delicado com as tuas emoções, ao mesmo tempo. 

Sinais de alerta para o suicídio

Antes de falarmos dos sinais de alerta para o suicídio, vale ressaltar que o suicídio pode ser prevenido, mas ele não pode ser previsto! Ou seja, ter consciência de alguns comportamentos de risco podem nos alertar para o cuidado e prevenção, mas não são garantias de impedimento do ato, uma vez que o suicídio é multifatorial.

Fazer essa ressalva é importante para não contribuir com a culpabilização dando a ideia de que se as pessoas ao redor tivessem percebido os sinais, o suicídio poderia ter sido evitado. Não é tão simples assim!

Alguns sinais que devemos nos atentar:

Isolamento social

A pessoa passa a faltar na escola ou no trabalho com regularidade, recusar convites, evitar interações sociais…

Isso também pode surgir na forma de desinteresse em atividades que gostava – por exemplo, hobbies, atividade física, sair com amigos…

luto por suicídio
Fonte: Sophia Hsin

Falas sobre morte ou cansaço extremo

Falar sobre a vontade de morrer ou expressar cansaço e dificuldade em continuar
são indicativos de um grande sofrimento. Então, tais falas podem ser entendidas como um pedido de ajuda.

Além disso, outros sinais merecem atenção:

  • Alteração na alimentação – comendo mais ou menos do que era habitual…
  • Alteração no sono – dormindo mais ou menos do que era habitual…
  • Aumento do consumo de álcool e/ou drogas – pode ser uma forma de tentar lidar
    com a dor emocional
  • Expressar sentimentos de desesperança e falta de sentido
  • Aumento da agressividade, irritabilidade – pode ser uma forma de tentar expressar o
    sofrimento interno
  • Se despedir, dar pertences que gosta para as pessoas

Tá, mas caso eu perceba um desses sinais, o que devo fazer?

Um primeiro passo é poder conversar de forma acolhedora com essa pessoa. Você pode começar assim, por exemplo: “Estou preocupado com você, tenho percebido (isso ou aquilo). Está acontecendo algo? Gostaria de poder te ajudar.”

Além disso, certifique-se de estar em algum lugar calmo, com privacidade e com tempo para escutar com calma o que ela tem a dizer.

Caso identifique que ela tem pensado em fazer algo contra si mesma, você deve, então, sugerir um serviço de saúde mental (no final da matéria estão os contatos disponíveis) que terá o preparo e conhecimento adequado para lidar com a situação.

Você pode, inclusive, se oferecer para ir junto. Afinal, é importante ter alguém de confiança nesse momento. O vital é não subestimar esses sinais e ajudar na busca de suporte adequado!

O que é o luto por suicídio?

Primeiro de tudo, precisamos entender que o luto é um conjunto de respostas e reações naturais frente a uma perda significativa. Ou como disse Parkes, psiquiatra e grande estudioso do assunto, “o luto é o preço do amor”, não tem escapatória, ao perder algo ou alguém que amamos muito, vamos sofrer muito!

O luto tem um impacto importante em todas as áreas da vida de uma pessoa – na parte emocional, social, cognitiva, física e até espiritual – ou seja, é como se o mundo virasse de cabeça para baixo e tudo aquilo que era conhecido, torna-se estranho. São necessárias, então, muitas mudanças internas e externas para conseguir se adaptar à nova realidade.

Mas apesar de ser um fenômeno universal, a maneira com que cada um vai sentir e experienciar o luto será sempre única, já que envolve o contexto sociocultural, os recursos pessoais de lidar com o sofrimento, o histórico de saúde mental, a forma que aconteceu a morte, o suporte social, dentre outros fatores.

Quando falamos de luto por suicídio, estamos diante de particularidades bem específicas. Afinal, costuma ser como uma morte inesperada, prematura, violenta e estigmatizada.

São características importantes que podem prejudicar o processo de enfrentamento e elaboração da perda, sem falar nos tabus e julgamentos em torno desse tipo de morte que contribuem para o isolamento social dos enlutados.

Quais as diferenças do luto por suicídio para os demais?

Um dos pontos principais quando se fala em luto por suicídio é o silêncio diante de tantas perguntas que nunca se terão respostas. Afinal, permanecem as lacunas, os espaços vazios de sentido que se combinam com sentimentos intensos de culpa, vergonha, raiva, medo, solidão e muita, muita dor.

Busca incessante de respostas – inúmeras perguntas são feitas na tentativa de encontrar uma explicação. Faz parte da elaboração do luto tentar construir sentidos diante da perda, mas nesse tipo de morte as lacunas deixadas podem dificultar esse processo – “por que ele fez isso?”, “Como não percebi?”, “O que eu poderia ter feito para impedir?”… Além disso, os torturantes “e se…?”, “e se eu estivesse em casa naquele momento?”

Tabu, julgamento e estigma – A falta de conhecimento da nossa sociedade sobre o suicídio pode contribuir para atitudes que julgam, culpabilizam e estigmatizam os enlutados. – “mas você não percebeu nada?”, “ela não apresentou sinais?”, ou ainda manejar os conflitos frente às crenças religiosas sobre as consequências do ato suicida.

Isolamento social – Com a falta de apoio e validação social é muito comum que os enlutados se isolem e tenham dificuldade de buscar ajuda. Contudo, o luto precisa de gente! É vital ter com quem contar nesse momento.

Desequilíbrio no sistema familiar – É uma morte que traz grandes impactos no sistema familiar e, dependendo da forma que o tema será abordado entre os membros, pode afetar as interações, os papéis sociais, os significados atribuídos, intensificar conflitos prévios, além das diferentes formas de sentir e expressar os lutos.

Portanto, esses pontos levantados podem ser fatores de risco para um luto complicado, ou seja, um luto que pode necessitar de uma ajuda profissional especializada.

Como lidar com a dor do luto em casos de suicídio?

Assim como todo o processo, a forma de lidar com o luto também é muito particular! Mas é importante que cada pessoa possa descobrir aquilo que ajuda, conforta ou, ao menos, amenize a dor do luto.

Costumo dizer que essa descoberta muitas vezes se dá por “tentativa e erro” – você vai experimentando para descobrir o que pode funcionar com você.

Aqui vão algumas sugestões!

Permita-se sentir

Mesmo aqueles sentimentos que não são tão aceitos como a raiva, vergonha ou inveja. No luto, todos os sentimentos são válidos e precisam de espaço para existirem.

Encontre a sua forma de expressar

Seja por meio de conversas com amigos, familiares, grupo de apoio ou psicoterapia; ou ainda por meio da arte ou da escrita – colocar pra fora pode ser importante para aliviar a dor e construir uma história sobre a perda.

Autocuidado

O luto é muito exaustivo! Por isso, acaba sendo comum acabar negligenciando o autocuidado no momento em que mais se precisa dele!

Mas cuide do básico – boa alimentação, boa noite de sono, atividade física (mesmo que poucas vezes na semana), momentos de lazer, interações sociais (distrações também são importantes, ninguém aguenta olhar para a dor o tempo todo!)…

Evite comparações

É tentador querer comparar o seu processo com o do vizinho, mas lembre-se de que cada história, cada relação, cada luto é único!

Se for para comparar que seja com você mesmo, quando lá atrás você não conseguia fazer coisas que hoje já são possíveis.

Respeite o seu processo

Saiba que os altos e baixos são esperados, têm dias que a dor é sufocante, que a energia está mais baixa e que não vai adiantar forçar ou esperar um super desempenho nas tarefas; mas têm dias que você pode se sentir mais fortalecida e com mais ânimo para encarar os desafios. Reconhecer e respeitar seus momentos é de grande ajuda!

Permita-se pedir ajuda

Você não precisa lidar com tudo sozinho! Saber reconhecer e pedir ajuda quando precisa é fundamental.

Tenha uma lista dos seus contatos de emergência – aquela pessoa que é boa companhia para distrair, aquela que é uma ouvinte acolhedora… e se a dor estiver te paralisando ou prejudicando nas atividades rotineiras, vale buscar ajuda profissional!

Como fica a família do enlutado?

As famílias enlutadas por suicídio são muito impactadas por esse tipo de morte, principalmente por serem assombradas pelos estigmas e preoconceitos – o receio dos julgamentos por não terem feito nada para impedir, a vergonha de pensarem que se trata de uma família “desestruturada”, os conselhos que trazem mais culpa do que acolhimento, os olhares de pena. Além do olhar externo, entre os próprios membros, o assunto pode se tornar um tabu ou motivo de segredos e acusações. Pode haver uma estremecida na dinâmica familiar. Os laços se tornam mais frágeis.

Quando o luto não pode ser expresso abertamente, não há espaço para o seu acolhimento. O silêncio toma conta, a dor segue desamparada e pode prejudicar a travessia do luto. Por isso, as ações de suporte são fundamentais!

Como a terapia pode ajudar em situações envolvendo suicídio?

Um dos grandes especialistas da suicidologia, Shneidman, utiliza o termo “posvenção” para se referir às diversas ações/intervenções que podem ser realizadas com os sobreviventes (todos aqueles que foram afetados em maior ou menor grau) de um suicídio, com o intuito de minimizar os impactos ou prevenir outro ato suicida.

Isso pode acontecer por meio do atendimento psicológico individual, grupos terapêuticos, até mesmo ações de psicoeducação e apoio em instituições impactadas pelo suicídio como escolas, empresas, hospitais.

Portanto, as ações de posvenção funcionam como prevenção de novos suicídios e promoção de saúde mental para os sobreviventes.

A psicoterapia é um espaço seguro, livre de julgamentos, que permite um acolhimento singular de acordo com as necessidades de cada pessoa.

A ideia é que o enlutado possa se apropriar do seu processo de luto, se adaptar às mudanças, encontrar recursos de enfrentamento, poder construir novos sentidos e significados para o que aconteceu, encontrar novas formas de manter o vínculo com quem morreu.

Que ele possa (re)contar a sua história e reconhecer que o “como” a pessoa morreu, não pode ofuscar tudo o que se viveu.

Canais de ajuda para prevenção e posvenção ao suicídio

Existem canais online onde podemos buscar informações e pedir ajuda: CVV – Centro de Valorização da Vida cvv.org.br
Disponível 24 horas pelo telefone 188,
e no seguinte horário por chat:

Dom – 17h à 01h, Seg a Qui – 09h à 01h, Sex – 15h às 23h, Sáb – 16h à 01h Mapa Saúde Mental mapasaudemental.com.br
SaferNet Brasil new.safernet.org.br
Pode Falar UNICEF podefalar.org.br

Mapa da Tecnologia mapadatecnologia.com.br

Instituto Vita Alere – www.vitaalere.com.br / @vitaalere

Locais físicos de atendimento psicológico ou psiquiátrico como os CAPS (Centros de Apoio Psicossocial) do SUS e as clínicas-escola de Psicologia – você pode encontrá-los no Mapa Saúde Mental.

Referências

Antoniassi R. P. N. e Silva D. R. A compreensao do luto por suicídio como caminho para intervencao. In: Múltiplos olhares sobre morte e luto – Aspectos teóricos e práticos. Kreuz G. e Netto J. V. G. (organizadores). Curitiba: CRV, 2021.

Como falar de forma segura sobre suicidio.pdf – autora Karen Scavacini Scavacini, K., Cacciacarro, M. F., Pereira, M. R., Pessoa, G. C., & Motoyama, E. P. (2021). Saúde Mental de Adolescentes e Jovens (K. Scavacini & J. Fontoura, Eds.). Instituto Vita Alere.

Fukumitsu, K. O. Sobreviventes enlutados por suicídio – Cuidados e intervenções – 1ed. São Paulo: Summus, 2019.

Marianne Branquinho

Marianne é uma psicóloga clínica especializada em luto, com especialização na modalidade Residência Multiprofissional em Saúde com ênfase em Alta Complexidade. Mari é formada em tanatonologia, especializanda em Teoria, Pesquisa e Intervenção em Luto.

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