Você já sentiu ciúmes? Que atire a primeira pedra quem nunca vivenciou esse sentimento tão complexo e que machuca tanta gente. No geral, associamos esse sentimento a relações amorosas. Porém, o ciúmes pode estar presente em qualquer relação em que estamos inseridos. Trazendo desconforto para si e é provável que para o outro também.
Mas você já pensou o que é o ciúmes? O que causa o ciúmes? E mais: como controlar? Se alguma dessas questões já passaram pela sua cabeça, vem refletir comigo esse tópico presente em tantas pessoas.
O que é ciúmes
O ciúmes é um sentimento natural do ser humano, que aparece quando nos percebemos diante de uma ameaça de traição ou abandono. Ele envolve uma gama de emoções, como: raiva, medo, impotência, tristeza e ansiedade. Mas, só experienciamos todas elas, pois o vínculo com outro é importante para nós. Por isso, o amor também faz parte desse guarda chuva de emoções quando sentimos ciúmes.
As nossas emoções têm um papel fundamental na nossa sobrevivência desde o tempo das cavernas. Assim como o medo fez com que o ser humano se protegesse quando via uma ameaça de perigo real (um leão pronto para atacá-lo, por exemplo), o ciúmes entre parceiros foi uma estratégia protetiva para manter a genética do homem. Afinal, segundo a teoria do investimento parental, o comprometimento com cuidado e proteção do outro é maior quando os genes são compartilhados.
Hoje não precisamos que o ciúmes exerça essa função. Contudo, é vital atentar para como lidamos com ele e compreender que ele envolve várias sensações, emoções e comportamentos.

O que causa o ciúmes?
O ciúmes é gerado quando existe uma incerteza sobre o afeto ou a permanência do outro conosco em situações que envolvam a aproximação de uma terceira pessoa. Quando sentimos medo que o amor e o desejo do outro vá para um lugar que não seja a nossa relação. Esse receio, no geral, está ligado a pensamentos como “ele vai me trocar por ela”; “ela é mais interessante do que eu“; “não sou bom o suficiente para ela, por isso ela vai me deixar“; “ela deve estar me traindo com o colega de trabalho porque eles estão convivendo mais agora“.
Tiramos conclusões distorcidas de situações que não temos como comprovar. Elas geram, então, emoções tão desconfortáveis que é como se tivéssemos frente a um risco real. E tudo o que menos queremos, é perder essa batalha! Por isso, acabamos usando comportamentos controladores com o outro para nos defender desse desconforto. Como, por exemplo, invadir a privacidade, stalkear, fazer questionamentos, ligar a todo momento, etc.
Sintomas do ciúme
Quando nos referimos ao ciúmes, não falamos sobre sintomas, mas sim, sobre essa série de comportamentos citados acima. Eles podem se tornar bastante prejudiciais à pessoa e ao relacionamento. O que podemos pensar é: ter pensamentos e sentimentos sobre uma interação entre nosso/a parceiro/a com outra pessoa pode não ser nada confortável, mas a diferença está no que fazemos a partir daí.
Os pensamentos aparecem na nossa mente como se fossem anúncios indesejáveis na tela do celular – temos a chance de dar atenção ou ignorá-los. Quando escolhemos a primeira opção, podemos estar agindo com fundamentos no ciúmes. E, então, ter atitudes mais “visíveis” e controladoras – que dão uma falsa ideia de que iremos conseguir aproximar a pessoa. Mas a verdade é que o controle não é nada saudável e pode só afastar o outro.
Quais são os tipos de ciúmes?
Podemos caracterizar o ciúmes a partir do que ele pode gerar em uma relação. Como uma emoção como as outras, quando só o sentimos, entendemos seu papel natural e não necessariamente tomamos ações que não são assertivas a partir dele. Ou, aquele ciúmes prejudicial, que machuca, afasta, torna a relação pesada e sem espaço para uma vivência segura e estável.
Existem diferenças na forma que lidamos com o ciúmes e elas têm influência das nossas experiências com vínculos durante nosso crescimento. A teoria do apego contribui para entendermos como avaliamos e reagimos a ameaças de abandono por quem amamos. E porque a falta de estabilidade, segurança e previsibilidade vinda dos nossos cuidadores impactam até hoje na forma como nos relacionamos e tememos uma perda.
O que fazer quando sentir ciúmes?
O primeiro ponto importante é entender a função do ciúmes e aceitar como uma emoção que faz parte de nós. O que não significa que vamos agir com base nela. Mas, assim como toda emoção, ela é acompanhada de um pensamento e é aí que temos o poder de atuar.
Então, aqui vão alguns exercícios que podem contribuir quando nos percebemos sentindo ciúmes:
- questionar quais as evidências de que meus pensamentos são verdadeiros;
- avaliar os custos e benefícios de acreditar que esses pensamentos são fatos;
- registrar 1) os pensamentos mais fortes que surgiram logo após a situação que me deixou com ciúmes e 2) outras possibilidades de pensamento para a situação;
- refletir sobre se os comportamentos que tenho a partir do ciúmes podem agregar ou prejudicar a minha relação;
Além desses exercícios, a comunicação com o outro é vital para alinhar pontos como:
- o que é desrespeito,
- que situações são confortáveis/desconfortáveis e
- o que é importante para que cada um se sinta mais seguro na relação.
Lembre-se: pensamentos e sentimentos não são fatos. Um relacionamento é uma escolha, então há vários motivos para que o outro queira estar e nutrir uma relação conosco!
Com carinho,
Céres.
REFERÊNCIAS:
LEAHY, R. A cura do ciúme: aprenda a confiar, supere a possessividade e salve seu relacionamento. Porto Alegre: Artmed, 2019
Richter M, Schlegel K, Thomas P, Troche SJ. Adult Attachment and Personality as Predictors of Jealousy in Romantic Relationships. Front Psychol. 2022 Apr 12;13:861481. doi: 10.3389/fpsyg.2022.861481. PMID: 35496148; PMCID: PMC9039013.