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Da série: descobrindo as abordagens da psico

Numa sociedade em que temos cada vez mais estímulos, estamos cada vez mais acelerados e buscando por “fórmulas” de como produzir mais, sentir menos, controlar nossa subjetividade e agirmos praticamente como robôs, a ACT se torna um prato cheio.

A Terapia de Aceitação e Compromisso nos faz um convite gentil para abandonarmos a luta contra o que pensamos e sentimos e façamos as pazes com nossa própria subjetividade em prol de uma vida significativa. Afinal, entende-se que dor e valor são os dois lados da mesma moeda: quanto mais nos importamos, mais corremos o risco de sofrer.

Numa era em que as pessoas desejam ser “consertadas”, essa é uma abordagem que inquieta por mostrar que nossa maior potência mora em nossas humanidades e vulnerabilidades.

Por conta dessa proposta tão inusitada em uma cultura que deseja sentir somente prazer, felicidade e conforto, algumas pessoas desenvolvem preconceito e visões distorcidas a respeito da teoria. Assim, como uma boa terapeuta ACT, te convido para deixar de lado as histórias que sua te conta para experimentar essa visão de mundo comigo.

O que é Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT)?

A Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT) é uma abordagem Comportamental Contextual dentro do amplo guarda chuva das Terapias Cognitivo Comportamentais. Aliás, quando eu falo amplo guarda chuva, quero dizer que, apesar da ACT ser uma abordagem que olha para pensamentos e comportamentos, ela segue uma raiz epistemológica diferente da Terapia Cognitiva Tradicional.

Afinal, a ACT segue a filosofia do Contextualismo Funcional: todo comportamento tem uma função dentro de um contexto. Diferentemente da TCC de Aaron Beck, em que a ênfase é na “mente” ou nos “pensamentos e comportamentos disfuncionais”, a ACT olha em primeiro lugar para o contexto. Entende-se que os pensamentos, emoções e comportamentos não são o problema em si, mas sim, consequências do contexto.

Vou explicar melhor com um exemplo: imagine uma pessoa que trabalha 12h por dia, come e dorme mal, não tem tempo de lazer, assume mais tarefas do que dá conta e ainda tem um chefe que está sempre a punindo por erros e atrasos. Essa pessoa tem altos níveis de ansiedade, autocriticismo, medo de errar e perfeccionismo.

Mas…

… será que o problema está na mente dela ou no contexto em que ela está inserida? Afinal, o problema está no que ela sente e pensa ou está na forma como ela está se relacionando com sua vida?

O bacana da ACT é que ela conversa sempre com teorias evolucionistas. Nossas emoções e pensamentos não são vilões que precisamos “consertar”. Eles existem para nos proteger!

Se sentimos medo, é porque algo em nosso ambiente nos ameaça. Esse perigo pode ser tanto algo presente de verdade, como, por exemplo, no caso do chefe punitivo que mencionei, ou, algo fruto de nossa história de vida.

Ou seja, se eu tenho pensamentos duros sobre mim mesma, esses pensamentos tiveram uma origem adaptativa. Posso desenvolver esses pensamentos por passar por experiências tão invalidantes que fizeram com que minha mente aprendesse a contar essas histórias sobre mim. Assim, mais uma vez, não é minha mente que tem um defeito e precisa ser consertada. Ela só aprendeu a reagir às minhas experiências de vida.

É dentro desse raciocínio que a palavra “aceitação” surge dentro da abordagem. Entende-se que brigar, controlar ou tentar consertar o que pensamos e sentimos é parte do problema, e não a solução. O que causa o sofrimento em si não é a nossa subjetividade, mas sim, a forma como nos relacionamos com nossos estados internos.

Por que ‘ACT’?

A sigla ACT também não é a toa. Afinal, ACT em inglês quer dizer ação/agir. Então, o trabalho de aceitação não é passivo.

Trabalhamos para que as pessoas aprendam a fazer as pazes com sua subjetividade, sua história de vida e assim, consigam agir em compromisso com o que é vital em suas vidas. Não precisamos parar de pensar ou sentir para que ocorram mudanças em nossa vida.

Mais uma vez, o alvo não é a mudança de estados internos, mas sim, mudança dos nossos modos de agir em contexto. Transformando nossa relação com o contexto, consequentemente faz o contexto nos transformar também.

O grande problema é que temos uma cultura que, nesse sentido, prejudica o psicológico das pessoas. As pessoas costumam esperar “sentir diferente” pra então “fazer diferente”. Assim, costumam achar que tristeza é um problema e a felicidade é a solução.

O resultado disso? Podem, então, perder muito tempo brigando consigo mesmas e esperando parar de sentir desconfortos para viver uma vida significativa. Mas quem disse que uma vida significativa envolve ausência de dor?

Na ACT, entendemos que valor e dor costumam ser os dois lados da mesma moeda. Afinal, vitalidade não é se sentir sempre bem, é saber sentir bem.

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Qual o principal objetivo da ACT?

O principal objetivo da ACT é a promoção de flexibilidade psicológica. Ou seja, pensar e sentir com abertura, conectando-se com o momento presente e promovendo ações comprometidas com valores. Na teoria, há três pilares que baseiam essa explicação: abertura, presença e compromisso. No geral, esses pilares envolvem:

Como vocês podem ver, a ACT entende que a mudança só faz sentido se for baseada em valores. Valores são aquelas qualidades das nossas ações que dão sentido as nossas vidas. Ou seja, que fazem a nossa vida valer a pena . Os pacientes mudam pois “tem que” mudar ou porque existe algo que consideramos o “certo” a ser feito. Nós mudamos em prol de nos conectarmos com vidas valorosas e significativas. Assim, essa será a bússola na hora de se tratar, e não uma norma geral.

Nesse sentido, o objetivo da ACT não é “reduzir a ansiedade”, e sim, promover uma vida significativa. A ênfase não é em reduzir desconfortos, mas sim, ajudar os pacientes a direcionaram suas vidas para o valor, e não para a fuga da dor.

Esses pilares resumem os processos presentes no Hexaflex, que consideramos o coração da ACT.

Como surgiu a ACT?

A ACT surgiu na década de 70/80, tendo como seu grande idealizador Steven Hayes. No início, era conhecida como “distanciamento compreensivo” em que explorava o papel do comportamento verbal no sofrimento humano.

Foi com o surgimento da Teoria dos Quadros Relacionais (RFT), que hoje se considera como a teoria de cognição e linguagem da ACT, que, então, seu nome ficou conhecido como Terapia de Aceitação e Compromisso.

Além disso, essa mudança também teve como objetivo diferenciar a ACT dos modelos cognitivistas. A palavra “aceitação” já demonstra essa mudança de postura em relação aos pensamentos, afinal, ela defende a ideia de que é possível aceitar a experiência interna ao invés de tentar modificá-la.

A palavra compromisso mostra a ênfase na ação de comprometimento com valores.

Na década de 1990, com o surgimento de outras propostas contextualistas, começou a se falar em “terceira onda” ou “terceira geração” das TCCS.

Essas abordagens estão no que chamamos hoje de Terapias Comportamentais Contextuais, sendo as principais:

Aliás, recomendo assistirem o TED Talk do Steven Hayes chamado “Flexibilidade Psicológica: como o amor transforma a dor em propósito”. Lá ele conta como a história de vida dele foi transformada pela ACT.

Enfim, o futuro da ACT aponta diálogos cada vez mais fortes com as Terapias Baseadas em Processos e questionamentos da utilidade do atual modelo médico do doenças da PBE. Isso representa, então, uma mudança de paradigma na ciência e na busca por evidências.

Estou curiosa para continuar acompanhando esses debates!

Quais os principais conceitos da ACT?

Os principais conceitos da ACT são aqueles envolvidos no modelo de Flexibilidade Psicológica da ACT, o Hexaflex. São eles: Aceitação, Desfusão Cognitiva, Contato com Momento Presente, Self Observador, Ações Comprometidas e Valores.

flexibilidade psicológica na terapia de aceitação e compromisso
Fonte: Marcela Bohn

É possível também fazermos um contraponto apresentando o Modelo de Inflexibilidade Psicológica da ACT, também conhecido como modelo de Psicopatologia. Os processos nesse segundo modelo são: Esquiva Experiencial, Fusão Cognitiva, Falta de Contato com o Momento Presente, Self Conceitualizado, Impulsividade/Inércia e, por fim, Falta de Clareza de Valores.

inflexibilidade psicológica na ACT
Fonte: Marcela Bohn

Os 6 processos que temos dentro de cada modelo estão nos pilares que já mencionei aqui: abertura (aceitação e desfusão cognitiva); presença (contato com momento presente e self observador) e compromisso (ações comprometidas e valores). Sendo que os pilares de abertura e presença contemplam as qualidades de Mindfulness, que acaba, então, sendo o “pano de fundo” da ACT.

Os pilares

Os pilares e processos presentes no modelo de inflexibilidade psicológica são: fechado (esquiva experiencial e fusão cognitiva); desatento (falta de contato com o momento presente e self conceitualizado) e desconectado (impulsividade/Inércia e falta de clareza de valores).

Além disso, cada um dos processos apresentados se refere a uma dimensão psicológica. E assim, cada dimensão tem um anseio, considerados como reforçadores generalizados que todos temos. São eles:

ACT
Fonte: Marcela Bohn

Lembrando que, apesar dos processos serem separados didaticamente em flexibilidade/inflexibilidade psicológica, não quer dizer que processos de inflexibilidade são mesmo o problema ou o alvo de intervenção. Assim, precisamos fazer uma análise individualizada para entender quais processos estão por trás das queixas que os pacientes relatam.

Como acontecem as sessões na Terapia de Aceitação e Compromisso?

A ACT é uma abordagem experiencial que foca no processo ao invés do conteúdo. Isso quer dizer que, mais importante do que olhar para a fala e o comportamento do paciente, precisamos entender a função por trás dos comportamentos.

Quando falamos de comportamento, estamos falando de tudo aquilo que o ser humano faz (pensar, falar, agir, sentir). Por isso, um terapeuta ACT precisa manter uma postura muito aberta e curiosa pra tentar entender qual foi o papel daqueles pensamentos, sentimentos, jeito de agir na história de vida daquele paciente.

Para fazer essas análises se faz muito uso da relação terapêutica.

“Entende-se que processos observados na relação terapêutica podem se relacionar com problemas enfrentados na vida cotidiana dos pacientes.”

Por exemplo: podemos atender uma pessoa que tem como queixa a esquiva de relações sociais. Após a compreensão do caso, podemos entender que essa esquiva tem função de evitar o medo de críticas e o mesmo comportamento ocorre em sessão, quando o paciente fala pouco ou de maneira superficial.

Após entendermos a formulação de caso, fazemos uso do que ocorre na relação terapêutica para poder ajudar o paciente a trabalhar os obstáculos internos que ocorrem no momento presente da sessão.

Apesar do terapeuta ter um papel ativo e existirem processos definidos que orientam as análises, as sessões não seguem uma estrutura protocolar. Isso faz com que o terapeuta possa ser mais criativo em suas intervenções e use seu estilo terapêutico a seu favor para o sucesso do tratamento.

A Terapia de Aceitação e Compromisso também é muito conhecida por utilizar metáforas para ajudar na promoção de flexibilidade psicológica, bem como, estratégias de Mindfulness, exercícios experienciais, desesperança criativa e análises funcionais.

Para quem é indicada a Terapia de Aceitação e Compromisso?

A ACT é uma abordagem transdiagnóstica, o que causa confusão em muita gente.

Em outras palavras, ser transdiagnóstica significa: olhar para os processos por trás dos transtornos.

Por exemplo, podemos atender um paciente que vem com o diagnóstico de Transtorno de Ansiedade Generalizada.

Ou seja: ao invés de seguirmos diretrizes já definidas para o transtorno de ansiedade, iremos fazer uma análise individualizada para entender quais processos psicológicos estão por trás dos problemas trazidos pelo paciente.

Assim, analisando o caso, podemos entender que se trata de um predomínio de esquiva experiencial e fusão cognitiva que vêm junto dos sintomas ansiosos.

Contudo, entende-se que nem toda pessoa que tem este transtorno terá o predomínio dos mesmos processos. Por isso que o tratamento também acaba sendo diferente para cada um.

Falamos que a ACT não é uma abordagem para transtorno x, y, z, mas sim, para João, Maria, e Vera que podem ter transtorno x, y e z.

“O olhar é primeiro para o indivíduo, o que não quer dizer que se despreza o diagnóstico.”

É uma abordagem que ao invés de seguir um modelo de doença, segue um modelo de saúde.

É por conta desse olhar para os processos por trás dos transtornos que a pesquisa em ACT acaba sendo diferente das pesquisas que encontramos em outras abordagens dão ênfase em protocolos para transtornos pela lógica da PBE. A lógica por trás do DSM é uma lógica biomédica. A lógica transdiagnóstica por trás das Terapias Baseadas em Processos tira o foco dos sinais e sintomas e dá ênfase em entender o “porque” ou “como” eles se manifestam. O foco é novamente na função, e não na forma/topografia deles.

Dito isso, a ACT costuma ser indicada para trabalhar a presença de processos de inflexibilidade psicológica. Esses processos costumam estar presentes em transtornos ansiosos, depressivos, dor crônica, entre outros. Mas mais do que isso, pessoas que constantemente lutam com sua subjetividade,


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